segunda-feira, 7 de março de 2011

Pela repentina vontade, pelo agora

Há, hoje, a súbita vontade de escrever, porque há muito tempo, a vontade de falar.
Mas escrever sem as amarras, sem rascunho, sem preparar o texto, sem revisão, sem tempo pra reflexão, sem tempo pra acabar, sem o tempo pra continuar, sem o tempo de desistir. Assim como deveria ser o falar, fluído, fácil, deslizante, chegando onde deve chegar, escorregando levemente para onde queremos que vá.
O escrever sem o tempo para o disfarce, sem o tempo de encobrir cada palavra, de trocar a ordem, de infiltrar ambiguidade nos seus sentidos, de esconder; com o cuidado de deixar apenas uma ponta descosturada, que quando se puxa, desmancha-se o texto inteiro em linha tênue, única, e reta para onde sempre teve intenção de ir. Para quem sempre teve intenção de chegar.

Escrever enfim, sem o perigo da exposição, sem inventar personagens, sem o esconderijo de uma história, do irreal. Sem formato, sem definição, sem lírica, sem poesia, sem crítica ou opinião, sem tema, sem ciência, sem argumento, sem explicação.
Mas e qual o sentido quando não há o que se revelar?
Quando as linhas se perdem em metalinguagem, quando a intenção é fazer valer aqui um desejo de expressão, de veracidade, de identidade, de espaço, de confissão, de liberdade; quando a intenção é apenas falar - falar que há muito o que dizer.
É falar que se quer muito falar.
(Que se quer muito falar com você)
E então talvez dizer o que todas as músicas, e todos os poemas, e todos os livros, e todas as fotografias, dizem, dia a dia, para mim.




Fotografia: Henri Cartier-Bresson.

Medo

Como um ser humano normal, eu sempre tive muitos medos. Medos tão variados e que nem eu saberia descrever o porque de tantos medos. Mas antigamente era diferente, eu queria enfrentar esse medos, os desafiava. Não sei quando, não sei o porque, mas perdi isso em alguma parada enquanto esperava o ônibus. Como posso ser tão esquecida? Ao ponto de esquecer algo que considerava tão importante?

Hoje, o medo me consome, a desconfiança me detém, a cada passo em frente que dou. Tenho medo, que esse passo seja grande demais para minhas pernas, tenho medo que elas cedam a qualquer momento e eu desabe ao chão.

Nunca pensei em deixar para trás todas minhas lembranças, mesmo que eu queira me desfazer de algumas, mas sendo otimista, espero que seja só questão de tempo. Mesmo que eu esteja longe, guardo comigo todos os locais, todas minhas lembranças, cada anotação, cada carta perdida ou não entregue, levo-as comigo para não esquecer que existem “alguéns” perdidos em paradas de ônibus, e penso que um dia voltarei para pegar tudo de volta, por merecimento.

Ao mesmo tempo, deixo um pedacinho de mim em cada pessoa que aprendeu algo, sendo bom ou não, comigo. Mesmo tendo muitos medos, espero ensinar algo as pessoas, espero deixar algo nelas. Mesmo que sejam tristes palavras de agradecimentos e despedidas, ditas em um simples: Eu te amo. Não preciso dizer muito mais do que isso, não preciso dizer o quanto foram importantes pra mim, só preciso que me entendam.

Voltando ao medos. A covardia me trouxe algo bom, me fez pensar duas vezes antes de agir, me fez refletir mais e perder o impulso. Mas as vezes penso, será que não era esse impulso que deixava a vida mais doce? Prefiro não descobrir essa resposta, não por agora;

Acho que já machuquei muitas pessoas, pelo fútil medo de sofrer. As pessoas fazem de tudo para não sofrerem, mas isso muitas vezes é inevitável, e muitas dores chegam para o bem.

Esse medo de tudo, me fez ter medo de mudar, ou até talvez, ter medo de voltar a ser o que eu era. Minha mente menina, me diz que há tantas coisas a se pensar, e tantas coisas a se fazer, que o melhor agora é esperar, mesmo que eu sofra, mesmo que isso me renda baldes de lágrimas, pelo menos não faço mal a ninguém assim.

Por fim, queria ressaltar que mesmo se eu continuasse a ser a menina corajosa, não saberia enfrentar todos os meus medos, pois um sapo é muito mais apavorante, do que monstros ilusórios (pelo menos para mim). Por isso fico feliz, mesmo que eu perca algumas lembranças, sempre terei meus medos, espero que eles me façam gerar novas lembranças que marcarão o caminho de mais alguns perdidos em alguma parada de ônibus por ai.